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5 MOTIVOS QUE TE FAZEM SOFRER MAIS DO QUE DEVIAS – e 5 práticas para sofreres menos

Olá, estimo que te encontres bem. Neste artigo, vou-te apresentar alguns motivos pelos quais as pessoas sofrem em demasia, bem como deixar algumas sugestões para que possam sofrer menos. Interessa-te? Então vamos lá.

 

Para que serve o sofrimento?

Já te perguntaste porque motivo sofres? É porque se não sabes a resposta a esta pergunta, talvez não te estejas a relacionar da forma mais saudável com o sofrimento.

Em primeiro lugar, gostaria de te dizer que não podes não sofrer: estar vivo implica sofrer. E porquê? Qual é a função do sofrimento? Porque é que todos nós vimos ao mundo equipados para sentir dor?

Imagina que dás um trambolhão. E partes uma perna. O que aconteceria se não sentisses dor? Pois… provavelmente continuarias a andar normalmente e nem sentirias necessidade de tratar a ferida. E o que iria acontecer, se pudesses andar com uma perna partida sem sentir dor? Provavelmente davas cabo da perna e da hipótese de a curares.

Então, sentir dor pode ser desagradável (muito até), mas é necessário senti-la para que possas atuar no sentido de reparar e curar. A dor, ou o sofrimento (seja físico, psicológico ou emocional) existem para que possas estar bem. Então, o sofrimento é necessário à vida. Por isso é que sofremos e não podemos evitar sofrer. Simplesmente o teu ser não o sabe fazer, pois se soubesse, isso poderia colocar a tua sobrevivência em causa.

Mas… há sofrer e sofrer. Há o sofrimento saudável e necessário e há aquele que não serve para nada, pois dor a mais impede a ação. Este segundo tipo de sofrimento habitualmente surge como resposta ao primeiro. Ou seja: sofres desnecessariamente só porque não queres sofrer.

Confuso/a? Vou falar-te sobre alguns motivos que nos levam a este tipo de sofrimento, desnecessário e excessivo.

 

5 Motivos pelos quais sofremos… tanto

…e 5 práticas para sofrermos menos

 

1 – Damos demasiado crédito às “histórias” da nossa mente

Não temos culpa da arquitetura e funcionamento da nossa mente. Para a nossa espécie sobreviver, foi necessário em termos evolutivos que desenvolvêssemos o raciocínio lógico. Temos no nosso cérebro humano o neocórtex, cuja especialidade, recorrendo à lógica e à linguagem, é resolver problemas. Contudo, nem tudo são problemas que requeiram a lógica do cérebro. Mais especificamente, quando se trata de questões emocionais, sempre que o cérebro tenta “resolver” as emoções como se se tratasse de uma equação, as coisas só pioram. O que quero dizer com isto é simples. Imagina que está um dia de sol, daqueles mesmo bons para dares um passeio. No entanto, sentes-te triste e não te apetece dar um passeio. O teu cérebro interpreta isto como um problema e diz-te algo do tipo “não devias estar triste num dia assim”. E pronto, adicionaste sofrimento extra ao que já tinhas. É isto que o cérebro faz, a toda a hora.

O que podes fazer quanto a isto?

Não tens culpa deste funcionamento do cérebro e não o podes impedir, por isso apenas podes tomar consciência desse processo, para não dares demasiado “crédito” às histórias da tua mente e cair numa espiral de sofrimento. Sempre que notares estas histórias na tua mente, faz uma nota mental que são apenas histórias: afinal de contas, onde está escrito que num dia de sol não se deve estar triste?

 

2 – Vivemos numa ditadura da felicidade

Já paraste para observar como somos constantemente bombardeados com a ideia de que devemos ser felizes? E de como inconscientemente a mensagem processada é algo do género “se não estás feliz, tens algum problema, há alguma coisa errada em ti ou no que estás a fazer”. A quantidade de antidepressivos e estimulantes sexuais que são vendidos no mundo pode deixar-te a refletir sobre isto mesmo. Queremos ser felizes, o tempo todo. Não queremos sentir medo, tristeza, raiva ou outros estados emocionais que nos fazem sofrer. E por causa disso, evitamos tudo o que não nos faz sentir bem. Já imaginaste o mundo se cada pessoa fizesse apenas aquilo que lhe dá prazer ou a faz sentir-se bem? Pois… Sabes, não tem de estar sempre tudo bem. O pensamento positivo não te vai ajudar sempre. Podes estar a viver na ilusão do pensamento positivo, que é só outra forma de viveres na ditadura da felicidade (há uns tempos, fiz a distinção entre mindfoolness e Mindfulness, que podes ler aqui). Nem sempre tudo vai ou está a correr bem. A vida por vezes é difícil, ou mesmo trágica.

O que podes fazer quanto a isto?

Podes decidir que não serás escravo/a da felicidade que te vendem a toda a hora. Podes aceitar que ser feliz não quer dizer que te sintas sem sofrimento a toda a hora. Podes decidir ser mais compassivo/a em relação ao teu sofrimento, em vez de o tentares evitar a todo o custo. Fica aí só por um pouco, “toma um chá” com o teu sofrimento e ouve-o como se fosse um bom e velho amigo teu, que veio para te alertar de algo importante. E observa o que lhe acontece: se acrescentas sofrimento ou se o apaziguas.

 

3 – Comparamo-nos aos outros constantemente

Desde sempre que o fazemos, simplesmente porque temos também um cérebro de mamífero, que sabe que só sobrevivemos como espécie recebendo e prestando cuidados aos outros. Por isso amamos e somos amados, ou se preferires o termo mais técnico, vinculamo-nos uns aos outros. E para sermos amados, é necessário estarmos integrados, pertencermos ao grupo. Por esse motivo, o nosso cérebro especializou-se na comparação social. Contudo, sobretudo agora que vivemos num mundo global, onde à distância de um clique podemos ver-nos e comparar-nos com qualquer pessoa no mundo, a amplitude da comparação que sempre fizemos aumentou bastante. Queres começar a pensar que não fazes o suficiente em termos profissionais, ou não és boa mãe, ou não és suficientemente atraente, inteligente, etc.? Basta abrires as redes sociais, e puf! Magia! Sem dares por ela, já estás a sentir que estás a falhar em alguma coisa. Sabes aquela tua amiga que medita 2 horas por dia e ainda tem 2 filhos, vai ao ginásio, faz receitas vegan e ainda tem um corpo escultural? Pois, se gostavas de fazer isso tudo e achas que o devias fazer, provavelmente adicionaste sofrimento ao que já tinhas antes porque não tiveste tempo para comer uma refeição cozinhada.

O que podes fazer quanto a isto?

Observar que estás a comparar-te com alguém ou com alguma ideia/valor/ideal teu. E que acrescentas sofrimento devido aos teus “deveria” ou “tenho de”. Podes observar e decidir se os padrões com os quais te estás a comparar fazem mesmo sentido para ti, ou se estás a tentar para cumprir as expectativas de alguém. Se for este o caso, olha outra vez e nota que essa regra (de viver para estar de acordo às expectativas de alguém) é também tua. E olha, isso são mesmo boas notícias, porque podes decidir que não queres mais essa regra na tua vida.

 

4 – Não conhecemos as nossas necessidades

Lembras-te quando fazias alguma asneira em criança e ralhavam contigo, culpando-te ou acusando-te do sucedido? Mesmo que a asneira tenha sido feita efetivamente por ti, a verdade é que se cresceste à procura de culpados para as situações que não correm conforme o esperado, podes ter uma certa tendência para seres exigente contigo e/ou com os outros, sem teres noção de quais são as necessidades (tuas e/ou dos outros) que não estão a ser atendidas ou satisfeitas nessas situações. Ou seja, podes ter uma certa tendência para procurar o “erro”, em vez de procurares a necessidade subjacente. E isso acrescenta sofrimento, porque o facto de te sentires culpado/a ou de culpares os outros não resolve nada por si, verdade? A culpa é necessária e útil quando serve para reparar o dano, mas quando não há sequer entendimento sobre o motivo pelo qual alguém (tu ou o outro) não fizeram o desejado/esperado e provocaram dano, perde-se a capacidade de aprender com isso e evoluir numa próxima situação. E também se aumenta a probabilidade de investir numa comunicação violenta (contigo e com os outros), que por sua vez coloca os nossos cérebros em modo de ameaça… e por sua vez nos leva a adotar estratégias defensivas ou de luta (lê mais sobre isto aqui ). Quando fazes isso, não estás muito conectado/a  com o teu sofrimento, pelo que ficas sem grandes hipóteses de o poderes aliviar.

O que podes fazer quanto a isto?

Quando algo não corre conforme querias ou achas que deveria ser, e te sentes em sofrimento, pergunta-te o que precisas, qual é a tua necessidade, em vez de ires procurar o “erro” (teu ou de alguém). Repara no que precisas e comunica isso mesmo em vez de usares acusações. Ao fazeres isto, estás não só a dar um passo para apaziguar o teu sofrimento, como também não estás a acrescentar sofrimento extra ao que já tinhas. Cultiva o teu autoconhecimento.

 

5 – Negamos e evitamos emoções

Um dos motivos pelos quais não conhecemos as nossas necessidades (que abordei no ponto anterior) é o facto de não conhecermos as funções das nossas emoções. Se viemos ao mundo equipados com elas, é porque precisamos. Todas as emoções são necessárias para algo. Algumas podem ser agradáveis de sentir, enquanto outras podem ser desagradáveis, o que faz com que o nosso cérebro tenha uma certa tendência para preferir as agradáveis. No entanto, mesmo essas, quando desreguladas em termos de intensidade e descontextualizadas, podem trazer-nos consequências bastante negativas. Da mesma forma que não querer experienciar emoções desagradáveis pode ter o mesmo tipo de consequências. Somos muito educados no sentido de reprimir algumas emoções. Ouvimos frequentemente (e com a melhor das intenções) pais a dizerem aos seus filhos “deixa lá, não chores”, ou então “não precisas de ficar zangada por causa disso”. Isto é só um exemplo. A verdade é que muitas vezes ficamos tão aflitos com o sofrimento dos outros, que em vez de conseguirmos aliviar o sofrimento, sofremos com eles. E connosco acontece o mesmo. Ficamos tão aflitos com o nosso sofrimento, que sofremos por estarmos a sofrer. E então sofremos mais.

O que podes fazer quanto a isto?

Cultiva a tua inteligência emocional. Começa por conhecer as emoções para que possas identificá-las e reconhecê-las, em ti e nos outros. Investiga a função delas e aceita-as com equanimidade, isto é, por aquilo que são, sem acrescentares juízos a isso. A tristeza é tristeza, não é boa nem é má. A raiva é raiva, não é boa nem é má. E assim por diante. E quando as emoções aparecem em ti, observa-as no local onde se manifestam no teu corpo, e permite-te vivê-las, em vez de as tentares expulsar. Vê o que acontece.

 

Resumida…mente

  • É legítimo que queiras sofrer menos
  • Contudo, o sofrimento sinaliza algo importante para a tua vida, logo, estás equipado/a com ele – é um equipamento de série, não é um extra. Não podes prescindir dele, sob pena de não funcionares devidamente
  • Mas podes prescindir dos “extras”. Neste caso, isso significa prescindir do sofrimento que tens porque estás em sofrimento. Ou seja, deixares de sofrer porque sofres.
  • Aceitar o sofrimento é a chave para sofreres menos. No próximo artigo desta secção, vou falar-te melhor de aceitação. Mas podes ler já o que escrevi sobre ela, enquanto atitude de Mindfulness, neste artigo.

Vai passando por cá. Vou falar-te mais sobre este e outros assuntos que te podem interessar.

Se te fez sentido e achas que pode fazer sentido a alguém, partilha este artigo.

Até breve, boa semana!

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2 Comments

  1. Bom dia!
    Saúde, paz e bem.
    O que fazer quando a pessoa se sinta uma dor que não condiz com o corpo, mas existencial?
    Existencial? Acredito que, essa dor, pode se relacionada a alma ou ao espírito.
    Obrigado!

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